sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



A Intenção Empreendedora no Ambiente universtário: Caso UNICENTRO

Autora: Marilene Bronoski

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada na Universidade Estadual do Centro-Oeste, situada no município de Guarapuava no Paraná, com acadêmicos de diversos cursos, identificando suas percepções sobre abrir ou não negócios próprios. Mostra que o desejo de empreender é maior nas séries iniciais do curso, decrescendo com a sua evolução. Neste aspecto, muitos alunos empreendedores deixam de ser quando estão próximos à formatura, como é o caso dos formandos do curso de Ciências Contábeis, quando muitos se preparam para prestar concurso público. Os acadêmicos com maior intenção em desenvolver negócios próprios é o de Administração, justificado pelo estímulo recebido no decorrer no curso através de disciplinas específicas. Os de Educação Física e de Fisioterapia também demonstram altos índices de desejo empreendedor. 

Aos estudiosos no assunto, bem como profissionais ligados à docência superior, é uma interessante leitura. 

RESUMO: A liberação cada vez maior de postos de trabalho ao que se denominou desemprego estrutural, tornando excedente um grande número de profissionais e não absorvendo parcela significativa dos que, anualmente se colocam à disposição das empresas existentes, tem exigido da sociedade em geral e das instituições de ensino superior e acadêmicos em particular, uma mudança de comportamento e competências, contrapondo-se à visão tradicional do emprego. Cabe, àquelas, no cumprimento de sua função de inserção dos alunos como contribuintes sociais e geradores de riqueza, capacitá-los e estimulá-los a iniciativas empreendedoras, de maneira que, administrarem seus próprios negócios desponte como uma alternativa lucrativa e realizadora. Este artigo retrata o resultado de uma pesquisa realizada com uma amostra de 625 acadêmicos da Universidade Estadual do Centro-Oeste, município de Guarapuava – Pr, identificando o potencial empreendedor desses alunos, comparando-o por curso e sua relação com a eventual existência de disciplina específica no projeto pedagógico do respectivo curso. Verificou-se que, em média, um em cada três acadêmicos deseja ter seu próprio negócio e que o curso de Administração, seguido pelo de Ciências Contábeis, ambos com disciplinas e conteúdos específicos sobre a criação e desenvolvimento de novos negócios são os de maior potencial empreendedor entre os formandos. Comparando-se com os resultados de uma pesquisa similar realizada na Fundação Álvares Penteado no curso de Administração, observou-se que os alunos da Unicentro são mais propensos ao empreendedorismo.
Palavras-chave: Empreendedorismo, emprego, trabalho e potencial empreendedor.  

SUMMARY: The release each bigger time of work ranks to that if it called structural unemployment, becoming exceeding a great number of professionals and not absorbing significant parcel of whom, annually if they place to the disposal of the existing companies, has demanded of the society in general and the institutions of superior education and the academics in particular, a change of behavior and abilities, opposing itself it the traditional vision of the job. It fits, those, in the fulfillment of its function of insertion of the social and generating pupils as contributing of wealth, to enable them and to stimulate them it enterprising initiatives, thus, to become owners of its proper businesses lopping of the tops of corn as a lucrative and accomplishing alternative. This article portraies the result of a research carried with 625 academics of the Universidade Estadual do Centro-Oeste, city of Guarapuava - Pr, identifying the enterprising potential of these pupils, comparing it for course and its relation with the eventual existence of disciplines specific on the enterprising questions in the pedagogical project of the respective course. It was verified that, in average, one in three academics desires to have its proper business and that the course of Administration, followed for the one of Countable Sciences, both with you discipline and specific contents on the creation and development of new businesses are of enterprising potential greater between the students of the last year of the courses. Comparing itself with the results of a carried through similar research in Fundação Álvares Penteado, in São Paulo in the course of Administration, it was observed that the pupils of the Unicentro are more inclined to the entrepreneurship.
Word-key: Empreendedorismo, job, work and enterprising potential.

1.                      INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA DE PESQUISA

Com a redução da oferta de emprego no mundo inversamente proporcional ao aumento da população economicamente ativa (PEA) alterando profundamente as relações de trabalho, optar por negócios próprios tornou-se uma exigência para, não somente recém-formados, mas todas as pessoas em idade produtiva.
         Nos meios acadêmicos têm surgido, mais recentemente, discussões sobre estas questões, despertando uma maior consciência da responsabilidade das IES sobre a efetiva ocupação dos seus egressos, adequando seus perfis à atual necessidade do mercado de trabalho. No bojo das soluções possíveis, desponta o estímulo ao empreendedorismo dos atuais alunos, com a criação de seus próprios negócios. Para tanto, disciplinas específicas vêm sendo introduzidas em grades curriculares de alguns cursos que, além de mostrar a realidade do mercado de emprego e trabalho, possibilita orientações que minimizem os riscos da decisão de iniciar e conduzir seus próprios negócios.       

Embora o número de novas empresas no Brasil cresça ano a ano, pesquisas mostram que a maioria dos novos empreendedores não tem o preparo para tal desafio, lançando-se a esta iniciativa muitas vezes como se fosse a última alternativa para a sobrevivência. São os chamados empreendedores por necessidade, onde o Brasil é o primeiro colocado entre 37 países pesquisados pela Global Entrepreneurship Monitor, em 2002 (IBQP, 2003). O número dos empreendedores por necessidade sobe proporcionalmente ao desemprego. Em dados apurados pelo DIEESE, somente na Grande São Paulo o índice de desemprego, em fevereiro deste ano, bateu a casa dos 19,8% (in JORNAL NACIONAL, 15.mar.2004), ou seja, um quinto da população em idade produtiva, considerado o maior índice dos últimos cinco anos.
Alinhada com as questões acima enunciadas, esta pesquisa foi realizada em 2003 tendo como base o número de acadêmicos matriculados no ano de 2002, no campus de Guarapuava da Universidade Estadual do Centro-Oeste[1], no município de Guarapuava, com o objetivo de verificar qual é a percepção destes acadêmicos quanto à gerência de negócios próprios como uma alternativa ao sistema formal de emprego e a possível relação com a existência ou não de disciplina específica sobre empreendedorismo no projeto pedagógico do respectivo curso. Para tanto, escolheu-se aleatoriamente, proporcionalmente aos alunos matriculados por série de 19 cursos em funcionamento, uma amostra de 625 alunos sobre a qual foi aplicada um questionário estruturado.
O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: após a apresentação dos objetivos e metodologia, passa-se à fundamentação teórica do assunto. Em seguida relatam-se os resultados e discussões, fazendo-se uma análise comparativa do potencial empreendedor entre cursos, entre IES referente ao potencial empreendedor tomando especificamente o curso de Administração. Apresentam-se, também, neste tópico, os motivos da opção entre abrir ou não seus próprios negócios e os ramos mais desejados. Na seqüência, relatam-se às conclusões e a relacionam-se as fontes orientativas da pesquisa.

  
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Emprego X Empreendedorismo

Apesar de nosso apego ao emprego tradicional, com ou sem carteira assinada, sob pena de comprometermos nossa dignidade e auto-estima, BRIGDES (1995) comenta que tal conceito surgiu apenas no início século XIX, para englobar o trabalho que precisava ser feito nas crescentes fábricas e nas necessidades burocráticas das nações em fase de industrialização. Até então as pessoas trabalhavam de maneira igualmente árdua, porém em tarefas constantemente mutáveis, em locais variados, de acordo com uma programação determinada pelo Sol, pelo tempo e pelas necessidades do dia. Na verdade, o emprego moderno foi uma nova idéia assustadora e considerada até socialmente perigosa, visto como um modo antinatural e desumano de se trabalhar pelos norte-americanos do início do século XX.
Embora muitas vezes confundido, os conceitos de emprego e trabalho são diferentes. Segundo A Grande Enciclopédia LAROUSSE CULTURAL (1998), emprego é definido como função, cargo, lugar, estabelecendo uma relação entre o indivíduo que trabalha e a pessoa física ou entidade que se beneficia de seu trabalho. Esta mesma fonte define trabalho como sendo “a atividade humana aplicada à produção, à criação, ao entretenimento; é atividade profissional regular e remunerada”. Já CHIAVENATO (1999), o define como sendo atividade que adiciona valor a algo, cujo objetivo é proporcionar prosperidade às pessoas, às organizações e à sociedade.
O que se observa na atualidade é que em lugar de empregos há situações de trabalho em tempo parcial e temporário, aparecendo a figura do prestador de serviços ou terceirizado, seja ele pessoa física ou jurídica. Na verdade, se os empregos diminuem numa progressão aritmética de um lado, as oportunidades de trabalho aumentam geometricamente de outro, propiciando o aparecimento do empreendedor que, segundo STONER & FREEMAN (1995) “é o indivíduo ou grupo de indivíduos que assume a responsabilidade de iniciar, manter e consolidar uma unidade empresarial, orientada para o lucro, por meio da produção ou distribuição de bens e serviços econômicos”. Como potencial empreendedor, o que se propôs levantar nesta pesquisa no meio acadêmico, é o indivíduo (neste caso, o aluno) que, dentro de um período determinado, tem a disposição de iniciar e gerenciar seu próprio negócio.
Embora se tornar empreendedor passou a ser uma importante alternativa para a questão do desemprego, segundo ZOHLIM (1994) alguns se adaptam melhor como empregados e são importantes para as organizações nas quais trabalham. Sabe-se, porém, que com a instabilidade do vínculo empregatício, o risco dentro da empresa (como empregado), é, muitas vezes, maior que o da própria empresa (como empresário). Em função disto, McCLLELAND (in BRONOSKI, 1999) defende que algumas características ditas empreendedoras, devam ser desenvolvidas pelos indivíduos, tais como: assunção de riscos, iniciativa, planejamento e controle, desenvolvimento de relacionamentos, busca da perfeição e qualidade, tomar decisões e, persistência, que são tão importantes em uma ou outra situação, porém, são indispensáveis para quem deseja abrir e tocar negócios próprios.
LONGENECKER el al (1997) entende que o período de maior favorabilidade para o início de novos negócios é entre os 20 e 40 anos, considerando que neste período já se desenvolveu experiência em algum ramo de negócio, ou já se concluiu algum curso que tenha contribuído para o aumento da segurança ou, até, a própria perda do emprego, impulsionando o indivíduo numa nova direção.


3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

   Tal pesquisa envolveu cursos de bacharelados e de licenciaturas, num total de 3.896 alunos[2]. Dentre os cursos de bacharelados, foram pesquisados os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Serviço Social, Secretariado Executivo, Análise de Sistemas, Engenharia de Alimentos, Nutrição, Fisioterapia e Comunicação Social. Os cursos de licenciaturas incluídos na pesquisa foram: Pedagogia, Matemática, Letras (Português-Inglês e Português-Literatura), Geografia, História, Filosofia e Ciências Biológicas.
Destacaremos, neste artigo, a análise individual do curso de Administração realizada:
Neste curso foram analisadas três situações: Manhã e Noite no Campus de Guarapuava e Noite na Extensão de Laranjeiras do Sul, totalizando 490 alunos em 13 turmas. Além de conteúdos de orientação gerencial em boa parte das disciplinas, o curso conta com duas específicas sobre empreendedorismo: Empreendedorismo, no 2o. ano e Administração da Pequena e Média Empresa, no 4o. ano.
Nos cursos noturnos (Guarapuava e Laranjeiras do Sul) percebeu-se uma situação comum, ou seja, há um aumento do desejo empreendedor com o avanço da série. Em Laranjeiras do Sul, por exemplo, todos os formandos desejam ter ou continuar negócios próprios.
No curso matutino vemos a situação inversa. Há um decréscimo no desejo empreendedor com o avanço da série, chegando a nulo entre os formandos. Neste caso 100% desejam trabalhar em empresa privada. Da mesma forma, contrariamente às outras duas situações, estes formandos não têm interesse e motivação nenhum pelas disciplinas que tratam do assunto. Surpreende também o fato que é neste turno o maior número de atuais empresários. Sobre os motivos para a não continuidade e/ou abertura de negócios próprios, discorremos na seqüência.


3.1 Análise comparativa da intenção empreendedora entre os cursos

  A análise comparativa se deterá nas seguintes variáveis:

·   Percentual de atuais alunos empresários sobre o total de alunos matriculados no curso no ano de 2002.
· Potencial empreendedor do curso (média do curso em relação à pretensão futura em conduzir negócios próprios).
· Potencial empreendedor entre os formandos do curso (média entre os formandos que desejam abrir novos empreendimentos). Para esta análise, apenas os cursos consolidados participaram.
O potencial empreendedor foi detectado a partir da afirmação do respondente quanto a intenção de abrir negócios próprios, em detrimento de trabalhar como empregado em instituição pública ou privada. Os resultados estão sintetizados na Tabela 1 – Bacharelados e na Tabela 2 - Licenciaturas, a seguir.


   Tabela 1 - Bacharelados
Curso
Número de alunos
matriculados
% de atuais empresários


% de potenciais empreendedores

Número de formandos
% de potenciais empreendedores entre os formandos
ADMINISTRAÇÃO
490
19
57
59
58

CIÊNCIAS CONTÁBEIS
463
28
43
48
46

CIÊNCIAS ECONÔMICAS
160
0
25
26
25

NUTRIÇÃO
160
0
38
35
33

ENG. DE ALIMENTOS
126
0
18
17
0

ANÁLISE DE SISTEMAS
128
0
34
26
33


Total

1.527

222[3]

645[4]

211

83[5]

   Fonte: Questionários.

Entre os cursos de bacharelados consolidados – Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Nutrição, Engenharia de Alimentos e Análise de Sistemas -, o curso de Administração é o que tem, na média, o maior potencial empreendedor, 57%, o que corresponde a 280 alunos, como também uma maior média entre os formandos na intenção em gerenciar seus próprios negócios, de 58%, ou seja, trinta e quatro alunos. Note-se que a sua grade curricular privilegia disciplinas (conhecimentos, habilidades e competências), voltadas à área empresarial, além de disciplinas específicas sobre empreendedorismo, comprovado pela justificativa da maioria dos empreendedores potenciais quando afirmam que pretendem tornarem-se empresários para aplicar os conhecimentos obtidos no curso. 

        Já o curso de Ciências Contábeis desponta em segunda lugar entre os formandos na intenção empreendedora, com quase a metade dos alunos (46%) em se tornarem ou continuarem empresários. É o curso tem maior número de atuais empresários, embora muitos deles demonstrem insatisfação com a atividade e com predisposição em prestar concurso público.


Os acadêmicos do curso de Ciências Econômicas são os únicos que mantém, ao longo do curso, o desejo de, depois de formados abrir negócios próprios, como também foi o que demonstrou maior satisfação com a disciplina que trata das questões empreendedoras, considerando-a estimulante e esclarecedora.
Diga-se de passagem, que, entre os bacharelados, apenas o curso de Nutrição não havia, na ocasião da pesquisa, orientações específicas sobre abrir e/ou conduzir negócios próprios e, ainda assim, têm a terceira maior média entre os formandos desejosos em abrir novos negócios, com 38% do total. Acredita-se que este fato se dá pelas próprias características do curso, cujo profissional geralmente atua em consultório próprio, fato que já justificaria inserção de conteúdos de gerenciamento em sua grade curricular. Tais resultados podem ser mais bem visualizados pela Tabela 2, a seguir.
Verifica-se que, neste grupo, embora a pretensão em prestar concurso público ainda seja representativa, (dividido com a intenção de trabalhar em empresas privadas) é menor que no grupo das licenciaturas.

Tabela 2 – Licenciaturas

Curso
Número de alunos matriculados
% de atuais empresários
% de potenciais empreendedores
Número de formandos
% de potenciais empreendedores entre os formandos
MATEMÁTICA
308
0
10
123
0
HISTÓRIA
159
24
14
37
0
GEOGRAFIA
161
5
24
42
28
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
222
22
25
19
33
LETRAS PORTUGUÊS-LITERATURA
153
8
18
32
40
LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS
186
8
13
34
0
PEDAGOGIA
743
3
20
88
0

Total

1932

145[6]

149[7]

375

31[8]

Fonte: Questionários.

Dentre os cursos consolidados de licenciaturas – Letras Português-Inglês, Letras Português-Literatura, Pedagogia, Geografia, História, Ciências Biológicas, Matemática -, a maior média entre os formandos com intenção em gerenciar seus próprios negócios é a do curso de Letras Português-Literatura, com 40% do total (destacando-se que não existe em sua grade curricular disciplina (s) que trate das questões empreendedoras), que corresponde a treze alunos. Da mesma forma como no curso de Nutrição já comentado, este resultado já justificaria uma maior consistência nas informações (conteúdos) em preparar estes potenciais empresários para melhor condução de seus negócios.

Comparativamente com os cursos de bacharelados, o curso de Letras Português-Literatura apenas perde para o curso de Administração e Ciências Contábeis no desejo empreendedor, muito próximo ao curso de Nutrição e Análise de Sistemas.
O curso de Ciências Biológicas é que apresenta a maior média de futuros empreendedores, 25%, o que corresponde a cinqüenta e seis alunos elevando-se para 33% entre os formandos, a segunda maior apresentada. Note-se que é o único curso deste grupo que recebe informações sobre empreendedorismo, no último ano. Isto pode ter contribuído para a elevação deste índice.

 O curso de História apresenta o maior número de empresários atuais, com 24% o que corresponde a 38 alunos, porém, desaparecendo totalmente o desejo empreendedor entre os formandos, com um percentual nulo. 
Constata-se que a maior incidência em prestar concurso público, em detrimento da opção de trabalhar em empresa privada encontra-se neste grupo. Os motivos mais fortemente elencados para tornarem-se funcionários públicos foram a segurança e a estabilidade. 
Em ambos os grupos, observou-se que a maior incidência do desejo empreendedor ocorre, via de regra, nas séries iniciais dos cursos, diminuindo gradualmente até a última[9]. Fato que pode ser comprovado, onde apenas quatro cursos -3% do total – têm as médias entre os formandos maiores que o apurado entre todas as turmas do curso.
 A média do potencial empreendedor entre os formandos nos cursos consolidados é de 23%. Isto que dizer que, aproximadamente, um em cada quatro dos alunos do último ano vê na criação de negócios próprios uma alternativa para o sistema tradicional de emprego.

 Entre os cursos não consolidados no momento da pesquisa, como Secretariado Executivo, Fisioterapia, Serviço Social, Comunicação Social, Educação Física e Filosofia, apresenta-se, na Tabela 3, o percentual dos atuais alunos empresários e o percentual médio das turmas do curso quanto ao desejo de tornarem-se empreendedores depois de formados.

       Tabela 3 – Cursos não consolidados[10]

Cursos
Número de alunos matriculados
% de atuais empresários
% do potencial empreendedor
SECRETARIADO EXECUTIVO
79
8
27
FISIOTERAPIA
125
0
55
SERVIÇO SOCIAL
81
16
7
COMUNICAÇÃO SOCIAL
40
0
25
EDUCAÇÃO FÍSICA
30
0
100
FILOSOFIA
82
14
0

Total

437

11[11]

126[12]

          Fonte: Questionários.

Embora não conclusiva, a análise permite apontar situações surpreendentes, como, por exemplo, no curso de Educação Física, onde 100% dos acadêmicos pretendem, depois de formados, desenvolver negócios próprios. Da mesma forma o curso de Fisioterapia, onde a média de futuros empresários apenas empata com a do curso de Administração, que é o maior neste quesito.
É possível que, com o decorrer do curso, esta intenção diminua, como já verificada nos cursos consolidados.
O curso de Filosofia, que hoje detém o maior percentual de alunos empresários, é o de menor potencial empreendedor futuro, desejando, a totalidade dos alunos, tornarem-se funcionários públicos, deixando, portanto, as atuais atividades empresariais.

A diminuição da manutenção dos atuais negócios pode ser justificada, pois se apurou que menos de 20% desses alunos empresários tiveram auxílio na abertura de seus negócios. Os que tiveram foi, com maior incidência, através do SEBRAE-Pr. Tal situação já havia sido observada em pesquisa anteriormente realizada (in BRONOSKI, 1999), quando os micros e pequenos empresários do Município de Guarapuava afirmavam desconhecer as entidades de apoio da classe e que poucos tiveram auxílio em alguma fase dos seus negócios, e, os que tiveram, apontam o contador, figura mais próxima deste empresário, principalmente nas questões de ordem legal e tributária.

Sabe-se que, apesar do esforço das entidades ligadas ao empreendedorismo e das instituições de ensino, é grande o desafio pelo qual passam os empresários antes, durante e depois de abrirem suas empresas, de acordo com este cenário revisado.
A média do potencial empreendedor apurado entre todas as turmas dos diversos cursos é de 30%, decrescendo em 6% entre os alunos do último ano.


3.2 Comparativo entre IES sobre a intenção empreendedora

Apesar de ser um assunto amplamente pesquisado, pouco foi feito na apuração do perfil empreendedor no meio acadêmico. Uma das poucas pesquisas realizada e divulgada foi a da Fundação Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo, aplicada aos alunos do último ano do curso de Administração, no ano de 1995, daquela Instituição. Tal pesquisa apurou que 40% dos formandos optaram em gerenciar negócios próprios, contra 30% que tinham o objetivo de tornar-se empregados (in BRONOSKI, 1999). 
O curso de Administração da Unicentro, conforme dados anteriormente apresentados, mostra que 58% dos formandos pretendem gerir negócios próprios, contra 33% de se tornarem empregados em empresas privadas.
Comparativamente, nota-se uma diferença de 18% a mais na intenção empreendedora entre os acadêmicos da Unicentro do último ano em relação à FAAP. Os cursos de Letras Português-Literatura e o de Ciências Contábeis têm índices igual e superior, respectivamente, ao apresentado pela pesquisa da Fundação Álvares Penteado. Este resultado demonstra que os acadêmicos da Instituição em questão apresenta um potencial empreendedor superior ao da Instituição tomada como referência.


3.3 Motivos para abrir ou não novos negócios e ramos mais desejados

As razões mais apontadas entre o alunado para tornarem-se empresários foi a liberdade proporcionada pela direção de negócios próprios, a aplicação de suas próprias idéias e a não aceitação de ordens, respectivamente.
Segundo o prof. SHAPERO (in BRONOSKI, 1999), estes são os motivos mais representativos para as pessoas tornarem-se empresários, ao que ele chama de inconformismo.
Outra razão apontada foi de maiores ganhos propiciada com esta iniciativa, corroborando com um dos fatores indicados por LONGENECKER et alli (1997), denominada por ele de obtenção de lucro, o que, diga-se de passagem, é a mola propulsora de grande parte das iniciativas empreendedoras.

Ainda a formação profissional propiciada pelo curso, conferindo segurança e direcionamento para esta iniciativa, foi outro motivo apontado para a intenção empreendedora.  Segundo SHAPERO (in BRONOSKI, 1999), podemos traduzir este motivo como ruptura, quando algo novo acontece, tornando-o mais propenso ao risco e, oportunidade quando do surgimento de oportunidade de negócio de acordo com a competência do potencial empresário.

Alem desta,  a falta de alternativas de trabalho, também pode acelerar o processo. Tal fator, já destacado no início deste artigo e o que têm motivado o aparecimento de inúmeros novos negócios considerando a mudança no desenho organizacional e do avanço tecnológico pelo qual estão das empresas, é o aparecimento do empreendedor por necessidade.

Outra questão minoritariamente apontada como causa para a abertura de novos negócios é a geração de empregos proporcionada por esta iniciativa. Acreditamos que esta razão está intimamente ligada à anterior, pela consciência de alguns acadêmicos da mudança as relações de trabalho e o alto índice de desemprego, trazendo para si parte da responsabilidade social em minimizar esta mazela.

A razão para a não abertura de novos negócios concentra-se, principalmente, na escassez de recursos disponíveis e limitação do crédito, ratificada pelo argumento de que muitos desejavam captar recursos financeiros trabalhando como empregados para então abrirem empresas. Outros confirmaram este desejo para depois de aposentados, quando já teriam uma reserva financeira adequada, além da experiência necessária.

Outras questões, mais notadamente apontadas pelos alunos de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas visto terem seus projetos pedagógicos contemplados com conteúdos da disciplina Empreendedorismo e outras de caráter micro e macro-econômico, dizem respeito também às limitações ao crédito, carga tributária e social abusivas e a instabilidade político-econômica vigentes.

Tais fatos são notórios na sociedade como um todo e mais sensíveis para os diretamente envolvidos, que não conseguem multiplicar ou apenas conservar o capital investido nos empreendimentos apesar do esforço e conhecimentos técnicos. Demonstrados pelos autores ALCÂNTARA & SILVA, na reportagem O Brasil entre os piores do mundo, trazida pela Revista Veja em janeiro de 2004, em pesquisa feita pelo Banco Mundial com 122 países por sua capacidade de incentivar o crescimento econômico e a geração de empregos. Os itens pesquisados pertencem ao universo da microeconomia, também chamada economia real. Apurou-se, nesta pesquisa, que o país tem o sexto pior desempenho quanto a burocracia para abrir uma empresa, levando-se, em média, 152 dias, perdendo para países como Moçambique, Indonésia, Laos, Haiti e República Democrática do Congo.

Para o tempo de fechamento de empresa, o Brasil é o segundo do mundo. Tal processo dura, em média, dez anos. Perdemos para a Índia, onde se consomem 11,3 anos. Os países mais evoluídos fazem isto, em média, em 1,8 anos.
Segundo a mesma pesquisa, quanto à qualidade das leis trabalhistas, o Brasil ficou na penúltima colocação. Neste caso foram analisados os países pelo grau de adequação da legislação trabalhista à necessidade de geração de empregos formais. Este fato mostra a dificuldade de manter-se empregados de um lado, e legalmente contratados de outro, num pequeno empreendimento, que dentro de nossa realidade empresarial são a grande maioria (97% das empresas brasileiras são de micro e pequeno porte). 

Os ramos de atividades apontados como de maior interesse dos acadêmicos, está, em sua maioria, relacionada com o curso realizado.
Por exemplo, grande parte dos alunos do curso de Ciências Contábeis pretende abrir escritórios de contabilidade, serviços de auditoria, consultoria e treinamento empresarial. Alguns poucos pensam em se dedicar a serviços de informática e ao comércio em geral.

Os alunos dos cursos da área da saúde analisados (Nutrição e Fisioterapia), pretendem, em sua maioria, abrir clínicas especializadas relativas à área de formação.
No curso de Comunicação Social, vê-se a intenção de atuar no ramo de comunicação empresarial.
Os alunos do curso de Análise de Sistemas apontam para o ramo de serviços de desenvolvimento de sistemas informatizados e softwares.
Nos cursos de licenciatura, como Letras (Português-Literatura e Português-Inglês) e Pedagogia, a maior incidência recai em negócios relacionados à área de educação, como escola de educação infantil e escolas de idiomas.
Educação Física tem maior incidência nos ramos de serviços referentes à marketing esportivo.
Cursos como História, Ciências Biológicas, Geografia, Matemática e Administração apontam, como ramos pretendidos, opções variadas, como: escola de idiomas e serviços de internet; clínica veterinária e consultoria ambiental; serviços de contabilidade, criação de coelhos e transportes; serviços de cobrança e loterias; indústria de alimentos, serviços de exportação, comércio de confecções e alimentos, consultoria empresarial, comércio de cosméticos, comércio e serviços em informática, serviços de usinagem, respectivamente.

Nota-se que o curso de Administração é o que abre um leque de opções maiores de negócios, dada às características próprias do mesmo.
Confirmam-se as constatações obtidas através da bibliografia pesquisada, apontando para o setor de serviços a concentração das maiores oportunidades de novos negócios, em detrimento da indústria e comércio.


4. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Confirma-se que em cursos onde existe disciplina através da qual são difundidos conhecimentos sobre as particularidades em iniciar e gerenciar negócios próprios e as que propiciam ferramentas à boa administração, acentua-se o desejo empreendedor, notadamente observado nos cursos de Administração, Ciências Contáveis e Economia. Fato igualmente constatado é que na série onde tal disciplina é ministrada, o percentual de desejo empreendedor sobe consideravelmente entre os alunos (30%, em média), conforme já apurado na bibliografia. DORNELAS (2001), contestando o que se pensava até então, isto é, que as características empreendedoras e outros fatores qualitativos para um empreendimento ser bem sucedido já nascem com o indivíduo, afirma que se pode ensinar o indivíduo a ser um empreendedor e as instituições de ensino têm um papel importante nesta função.

O curso onde se observou maior potencial empreendedor entre os de bacharelados consolidados foi o de Administração com 57%, seguido pelo de Ciências Contábeis, com 43% e Análise de Sistemas, com 34%. Entre os cursos de licenciaturas consolidados, o destaque é para o curso de Letras Português-Literatura, com 25%. Entre os cursos não consolidados, todos os respondentes do curso de Educação Física pretendem abrir negócios próprios (100% de intenção empreendedora), seguido pelo curso de Fisioterapia, com 55% do total. Entre os formandos, novamente o curso de Administração obteve o maior percentual de intenção empreendedora, com 58%, seguido pelo de Ciências Contábeis, com 46%, Letras Português-Literatura, com 40%, seguidos por Letras Português-Inglês, Ciências Econômicas e Análise de Sistemas empatados, com 33%. 

O que se percebeu, mais nitidamente, foi que a formação do aluno, propiciada pelos conhecimentos recebidos através do elenco das várias disciplinas do curso, o ambiente universitário (colegas, professores, eventos promovidos, estrutura administrativa) e as próprias referências e experiências, são determinantes na sua opção profissional. Tal situação é visível em alguns cursos, notadamente nas Licenciaturas, por exemplo, quando alunos justificam o desejo em tornarem-se funcionário público como uma decorrência natural para o exercício de sua profissão. Ou outros que somente vêem no trabalho em empresas privadas condição única para a ascensão profissional e a colocação dos conhecimentos adquiridos em prática. Aliado a isto, a questão cultural que valoriza o emprego e o empregado, torna restrito outros horizontes profissionais.   

Outro fato a considerar é que alguns alunos não têm conhecimento do projeto pedagógico do seu curso, quando não sabem apontar a existência ou não de disciplina orientativa sobre as questões levantadas neste trabalho. Destaque-se, também, um percentual preocupante de opiniões que externalizaram desinteresse e inadequação de tal disciplina, quando ela existe.

Outra situação apurada pela pesquisa é que, com o passar das séries, o desejo empreendedor é gradualmente adormecido, com um decréscimo, em média de 30% até o último ano, sendo substituído com a intenção em se tornar empregado. Nitidamente se observa o crescimento do número de alunos com vínculo empregatício com a evolução do curso[13] mesmo entre os que já desenvolviam alguma atividade empresarial. É possível que este desinteresse no mundo dos negócios se dê tanto pelo pouco ou nenhum apoio obtido antes e durante a condução de seu negócio, bem como por se sentirem, como universitários, mais seguros e, portanto, poderem melhor competir no mercado formal de trabalho. Aliás, esta última situação é defendida por DOLABELLA (2000), chamada por ele como a síndrome do empregado. Acredita-se, também, que a diminuição no número de empreendedores no decorrer das séries seja também porque alguns se encontravam na categoria de empreendedores por necessidade já observada inicialmente, e que, após, podem realizar, conscientemente, a reopção profissional.

A média levantada entre os dezenove cursos é de 30% de desejo de empreender negócios próprios. Já entre os formandos este percentual diminui para 23%, o que confirma a diminuição do ímpeto empreendedor com o passar das séries, já comentado.
Porém, fato positivo a destacar é a superioridade na intenção empreendedora dos alunos da Unicentro (Instituição em estudo) com a Fundação Álvares Penteado (instituição de referência), mesmo que o ano base tenha oito anos de diferença (de 1995 para 2002). Apurou-se que, comparando-se o curso de Administração de ambas as instituições, a Unicentro obteve 58% de intenção empreendedora, contra 40% da FAAP, entre os formandos. A maior divulgação da importância do empreendedorismo como uma alternativa ao emprego formal e a própria sensibilidade dos acadêmicos sobre a nova realidade empregatícia devem tornar esta superioridade mais acentuada.

Acredita-se que, entre outras finalidades, estes resultados possam embasar estudos de reformulação curricular de alguns cursos, mesmo os que apresentaram uma notável potencialidade empreendedora entre seus alunos, adequando-os a realidade do mercado de trabalho e às pretensões e exigências desta clientela.

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[1] Incluem-se aí, as extensões da Unicentro nas cidades de Laranjeiras do Sul, Pitanga e Chopinzinho, em funcionamento em 2002.
[2] Os cursos de Ciências Habilitação Plena em Biologia, Enfermagem, Física e Química não responderam os questionários, não participando da pesquisa.
[3] Em número de absolutos.
[4] Idem.
[5] Ibidem.
[6] Em números absolutos.
[7] Idem.
[8] Ibidem.
[9] Tal situação já havia sido evidenciada por Fernando DOLABELLA (2000), onde ele denomina como a Síndrome do Empregado. Justifica que, com o passar dos anos, o aluno tornar-se mais seguro e “acomodado” inibindo seu desejo empreendedor natural e, conseqüentemente, iniciativas de risco.
[10] Cursos não consolidados em 2002, ano-base da realização da pesquisa.
[11]  Em números absolutos.
[12] Idem.
[13] Notadamente em cursos noturnos, onde a ocupação dos alunos é, em média, de 95%.